Jeferson Tenório

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Opinião

'Prisômetro' de Nunes é verniz para esconder show de horrores na segurança

A Prefeitura de São Paulo, sob comando de Ricardo Nunes, inaugurou um painel que vai atualizar, em tempo real e durante 24 horas, o número de prisões realizadas por meio do programa Smart Sampa, um sistema de câmeras para reconhecimento facial, espalhadas pelas ruas da capital, servindo para identificar suspeitos, foragidos e pessoas desaparecidas.

Em entrevista à Rádio Eldorado, o secretário municipal de Segurança Urbana, Orlando Morando, defendeu a medida dizendo que a divulgação das prisões realizadas pela Guarda Civil Metropolitana "dá mais transparência e melhora a sensação de segurança das pessoas".

A fala revela uma visão rasa e simplista. Uma visão que aposta numa ideologia punitivista e que vê a prisão como finalidade da segurança pública.

Na verdade, o painel representa um aceno para uma parcela da população que acredita em soluções fáceis para o problema da violência pública: vigiar e punir. Já conhecemos essa história.

Encher prisões é sonho perverso de uma ultradireita que não quer resolver o problema, mas se retroalimentar por meio do medo, do pavor e da punição, dando à sociedade nada mais do que uma falsa sensação de segurança.

Uma grande miragem que diz: "Olha, estamos prendendo pessoas, estamos fazendo muito pela sua segurança".

Certamente que queremos uma cidade segura para circular, mas quem anda pelas ruas de São Paulo sabe o quanto ela se tornou perigosa.

Somos obrigados, todos os dias, a criar estratégias para evitar assaltos - e não só isso, o receio de ser morto por causa de um celular é constante.

Não queremos um painel onde mostre que pessoas estão sendo presas, queremos uma segurança pública com melhores condições para os policiais, por exemplo.

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Por que não melhorar os planos de carreira, as condições de trabalho, os salários, proporcionar acompanhamentos psicológicos e investimentos no bem-estar desses profissionais?

Uma cidade segura é uma cidade sem a política do medo.

Uma política que celebra e espetaculariza o encarceramento já fracassou. E fracassamos como sociedade quando apoiamos.

O painel de Nunes é um verniz que quer esconder o show de horrores que virou a segurança pública em São Paulo.

Um verniz que revela, na verdade, a incapacidade e a falência de uma estrutura que acredita na força bruta e não no uso de inteligência, justamente porque transformar uma sociedade leva tempo e talvez isso não dê votos de maneira mais imediata.

O painel é aquela obra no meio da avenida principal só para mostrar serviço pensando nas próximas eleições.

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Queríamos ver painéis com números positivos sobre educação, sobre áreas de lazer na periferia, sobre saúde pública e a desigualdade gritante entre regiões em São Paulo.

Uma administração que aposta em prisões como "vitrine" de eficiência, e não na prevenção, está fadada ao fracasso.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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